Amor só...é pouco.

Essa semana aconteceu algo extremamente grave na minha família, que só não chamarei de tragédia porque não houve mortos e nem feridos. Quando algo de ruim me acontece, gosto de pegar cartas e recadinhos antigos e ler coisas que me fazem bem, escritas por parentes, amigos, pacientes e leitores (vocês podem não acreditar, mas existem comentários tão carinhosos aqui no blog, que alguns eu chego a imprimir para reler várias vezes depois).

Daí encontrei esta carta que meus pais me escreveram na véspera do meu casamento, e achei que os leitores-noivinhos do blog gostariam de ler também. Diz assim: (cof, cof)

"Querida Luciana:
Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudade, quatro de ódio, seis espécies de inveja...
O AMOR É ÚNICO,
como qualquer sentimento, seja ele destinado à família, ao cônjuge, à Deus.
A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue,
A SEDUÇÃO tem que ser ininterrupta...
Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia SER ETERNA.
Casamento: te amo pra cá, te amo pra lá. Lindo, porém insustentável. O sucesso de um casamento exige mais mais do que declarações românticas.
entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja antes de mais nada, RESPEITO.
Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor só, não basta.
Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas. tem que haver BOM HUMOR para enfrentar imprevistos, acessos de carências, infantilidades.
Tem que saber levar.
Amor só...é pouco.
Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar TPM, rejeições, demissões inesperadas, contas pra pagar.
Tem que ter disciplina para educar os filhos, dar exemplo, não gritar.
Entre casais que se unem, visando a longevidade do casamento, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um.
Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. é preciso entender que união não significa necessariamente fusão.
E que amor "solamente" não basta.
Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Mas também paixão e um pouco de magia, senão fica chato...
Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.
É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência: tolerância, humildade, amizade, alegria, orgulho...e ainda torcer para a receita dar certo!
Complicado? Talvez, mas não é só questão de sorte. É questão de competência e sabedoria. E é muito, muito bom poder compartilhar o amor.
Confiantes no amor que lhe devotamos, temos certeza que você saberá cultivar um casamento feliz e harmonioso.
Papai & Mamãe"

Esta carta acompanhava um presente maravilhoso, uma jóia muito linda que usei com o meu vestido de noiva. Eu chorei muito (oh, que novidade!), e nem sabia qual desses dois presentes me emocionou mais.
Essa semana fiquei sem a jóia, mas ficou o presente mais imporante.

Obs. Carta de Artur da Távola, só as duas últimas linhas foram escritas pelos meus pais....