Hoje vou te convidar a dar a sua opinião sobre um tema polêmico. Fique à vontade para responder como anônimo, se for o caso. Eu não vou te julgar pela sua opinião, até porque, este é um daqueles casos onde não existe a fórmula perfeita. Todo mundo está certo, todo mundo está errado.
Bom, vamos lá.
Quem é leitor antigo, lembra que minha avó faleceu em 2010. Foi tudo muito rápido, entre o diagnóstico e a morte dela. Até hoje eu não acredito como isso pode ter acontecido com ela, mas a questão não é essa.
O caso é o seguinte. Quando finalmente foi feito o diagnóstico, a sentença era de morte, e morte rápida. Coisa de três meses, se tivesse muita, mas muita "sorte".
Daí o dilema: "contar ou não contar para ela, eis a questão".
Se pensarmos em termos éticos, no direito do paciente, essa questão nem existiria. Afinal, toda pessoa tem a obrigação de saber a verdade sobre sua condição física. Até pra poder preparar um testamento, resolver pendências afetivas, realizar um último desejo, se despedir das pessoas que ama...
De posse desse pensamento, eu fui super a favor de contar a real situação para a minha avó. Estava totalmente contra meus pais e meu avô, que insistiam em mantê-la na ignorância sobre esse assunto. Como ela teve alguns episódios de AVC durante as inúmeras internações, pode-se dizer que o nível de consciência dela também não estava nenhuma Brastemp, de maneira que ela também não estava em condições de fazer muitas perguntas. Mas eventualmente ela melhorava um pouquinho e dava para se ter breves conversas.
Eu quase briguei com minha mãe por conta disso. Eu dizia:
" Ela tem o direito de saber"
" E se ela quiser nos revelar algum segredo?"
" E se ela quiser pedir alguma coisa?"
" Como vou poder me despedir dela, dizer que foi a melhor avó do mundo?"
" E a ética médica?"
Etc. Etc. Etc.
A irmã da minha avó, que por acaso era a minha tia preferida, também faleceu de câncer (preciso me cuidar, minha genética é péssima). Mas no caso dela, foi câncer de mama, e ela levou quase seis anos para falecer. E nós conversávamos sobre isso. Sobre os medos dela. Sobre como eu sentiria a falta dela. Sobre como eu não gostaria que ela me fizesse nenhuma aparição espiritual, caso esse negócio de espírito realmente exista (nós combinamos de conversar através de sonhos, juro!). Eu colava meus retratos no soro dela (imaginem a cena). Enfim, nós duas nos preparamos para o momento final, e nós duas estávamos em paz.
Contei isso tudo para os meus pais e meu avô, mas não teve jeito. Eles não queriam contar e me proibiram de contar também.
Um dia, eu fui conversar sozinha com o meu pai, o sábio. E o que ele me falou, varreu por terra tudo o que eu pensava, e por isso eu escrevi esse post hoje e quero te perguntar o que você faria. Te pergunto isso como médica e como amiga.
Meu pai me disse:
" Lu, digamos que você conte. O que você acha que isso faria de bom por ela? Isso iria acrescentar alguma coisa boa na vida dela? Ou você não acha que ela poderia se sentir no corredor da morte, presa na situação, com a morte se aproximando sem que possa fazer nada a respeito?"
Juro que parei pra pensar. Uma situação era a da minha tia, que teve um câncer de mama, foi operada, tinha esperanças reais de cura. Outra situação foi a da minha avó, que ao ser diagnosticada, já não estava assim tão lúcida, com um câncer de fígado inoperável, já metastizado para o corpo todo.
E daí comecei a pensar em outra questão crucial. E se fosse comigo? Eu ia querer saber?
E você? Gostaria de saber? O que você faria se fosse seu parente?