segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Mamas... para dar e vender...


Oi pessoal!
Devido aos inúmeros pedidos, aí vai um post sobre redução de mama.
Na medicina, sempre que temos várias técnicas para resolver um mesmo problema, costumamos dizer que nenhuma é realmente boa, caso contrário todo mundo faria só a "boa". Em mastoplastia redutora até uns 30 anos atrás essa máxima era verdadeira.

Quando se estuda cirurgia da mama, percebemos que existe algo em torno de 700 técnicas, mas nunca houve um concenso sobre qual seria a melhor. Foi à partir da década de 60 que alguns cirurgiões brasileiros começaram a botar ordem nesta "bagunça".

Alguns baluartes de nossa especialidade, entre eles Silveira Netto, Arié, Peixoto, Ivo Pitanguy e Liacyr Ribeiro começaram a nortear a moderna cirurgia de redução de mama.
Mas foi com o Dr.Liacyr que a coisa tomou corpo. Ele juntou as marcações em "T" invertido preconizadas por Pitanguy com as manobras de ascenção das aréolas preconizadas por Silveira Netto, com a genialidade de criar um pedículo, na verdade um retalho de derme e glândula, que ao dobrar-se sobre si mesmo, cria uma "prótese" natural que mantém o resultado da mastoplastia por muito mais tempo.

Hoje, na minha opinião, conseguimos montar as mamas com muito mais naturalidade e com resultados mais duradouros, mas ainda não conseguimos fugir da cicatriz em "T". Existem técnicas em que a cicatriz fica apenas na vertical, como o Losângulo, mas são de indicações muito restritas (mamas muito densas e com pouca pele para ser retirada).
Quando o grau de ptose (queda) da mama é muito acentuado não tem jeito.

Uma tendência que tenho observado é a da mastoplastia substitutiva. Onde aquele pedículo que se dobra sobre si mesmo é substituído por um implante de silicone. Com isso conseguimos ganhar um pouco mais de projeção e mais durabilidade de resultados, ainda que às custas de um implante.


Em relação a amamentação, realmente pode haver alguma interferência, ainda que a técnica do pedículo procure preservar uma conexão glandular, os ductos são seccionados e isso pode causar problemas de mastite no caso de uma paciente que vier a amamentar. Porém algumas conseguem.

A anestesia nestes casos é sempre a geral, e aqui não cabe muita discussão. É uma cirurgia longa (em torno de 4 horas) e as técnicas de anestesia local nessa região do corpo (tórax) são muito perigosas com potencial muito grande de complicações, principalmente o pneumotórax (perfuração do pulmão com agulha de infiltração) e parada respiratória (por bloqueio do nervo simpático nos casos de bloqueio peridural alto). Com a anestesia geral nós conseguimos diminuir para próximo de zero as complicações anestésicas.

O pós-operatório costuma ser bem tranquilo. Não é uma cirurgia dolorosa, existe apenas a questão da limitação de movimento dos braços, pois estes não podem ser elevados a mais de 45 graus, e talvez a pior parte, que é ter que dormir de barriga para cima, sem virar de lado ou de bruços por pelo menos 20 dias. Mas as pacientes toleram bem, até porque a redução de mama costuma dar um conforto e uma auto-confiança tão grande que qualquer esforço vale a pena no fim das contas.

Agora deixa eu contar uma historinha engraçada sobre o tema.
Quando eu comecei minha residência em cirurgia plástica, logo me encantei com as cirurgias de mama. Aumento, diminuição, reconstrução pós câncer, tudo me encantava.
Porém, a questão da cicatriz em "T" me incomodava muito.
Um belo dia, resolvi "criar" uma técnica que não tivesse a tal da cicatriz em "T".
Me debrucei sobre livros de anatomia, construí modelos em argila, e cheguei a uma técnica que, para mim, ia "revolucionar o mundo da cirurgia plástica", isso no alto da minha extraordinária experiência de pouco mais de 10 meses de residência.
Fui mostrar, então, minha revolucionária técnica para um professor chamado Dr.Ramil Sinder.
O Dr.Ramil é aquilo que pode se chamar de enciclopédia viva da cirurgia plástica, e se alguém ia me levar à serio, esse alguém era ele.
Após mostrar minha tese, ele olhou para o papel com desenhos e esquemas, e depois para mim. Aquele olhar eu lembro até hoje. Acho que só um pai olha assim para um filho, ou um verdadeiro PROFESSOR, e disse:
- Parabéns Luiz Felipe. Está ótimo, mas... Essa técnica já foi descrita em 1923 por Passot, depois, no mesmo ano por Auber. Em 1926, De Quervain aplicou melhorias e em 1942 Thorek modificou novamente. Em 1956, Longracre também modificou, e aí foi abandonada, pois a pele da mama necrosava em 90% dos casos.

Silêncio da minha parte...Estava tendo a primeira de muitas lições de humildade que tive ao longos dos anos.

Depois disso, sempre fiz questão de sentar ao lado do Dr.Ramil nos congressos e me divirto com os comentários que ele faz nas apresentações. Quando algum cirurgião diz que "inventou a mais revolucionária técnica", ele me cutuca e diz baixinho:
- Isso já foi publicado em 1941 na revista neo-zelandeza de cirurgia plástica...

Um abraço
Luiz Felipe

26 comentários:

Anônimo disse...

Puxa vida, como a NZ ta famosa!!!
Beijos
Syl

Carla disse...

Luciana, existem tratamentos estéticos eficientes para combater a flacidez das mamas ?

Luciana Leal disse...

Carla
Não. Você deve lembrar que a mama não é só pele. Tem glândula, gordura, músculo.
O único tratamento realmente eficaz é a cirurgia.
Abraços

Anônimo disse...

Luciana, seu blog já era um arraso! Com esse seu irmão ficou um espetáculo!!!! Parabéns!! Bjos! Vera

Wilma disse...

KKK...gostei da historinha, é assim mesmo, quando estamos empolgados achamos logo que vamos descobri a pólvora. Eu se tivesse tido coragem deveria ter feito uma plástica nas mamas anos atrás, pois elas já nasceram com ptose, e a cada ano a coisa está dramática, modelo igual as ìndias do Amazonas, nelas eu até acho bonito, mas aqui nessa vida urbana, é o ÒH!! Estou gostando mais ainda do blog, vocês tem um viés comum que é o humor franqueza, ambos indispensáveis nessa profissão, eu penso. Parabéns aos dois!!

Rafael L. disse...

Luiz Felipe,
Aquela primeira foto do seu penúltimo post me comoveu muito, lembro da minha infância como se fosse hoje, do cheiro de hospital, de mamãe me amparando entre um panciente e outro...
Uma coisa que eu tenho muito receio é a rinoplastia, por mais que pesquise, a maioria dos casos não consigo ver resultados satisfatórios. De fato o sucesso da cirurgia deve estar associado à anatomia do nariz de cada pessoa, mas no geral narizes mais finos têm-se um melhor resultado que os mais encorpados. Eu vejo isso, corrija-me por favor se estiver errado. Então, eu gostaria de saber a respeito das técnicas, qual a mais indicada pra cada tipo?
Outro problema é o de vocês não poderem mostrar fotos de antes e depois de outros pacientes, eu sei que cada paciente é único e não se pode mercantilizar a medicina, mas de certa forma é uma garantia de que o médico faz um bom trabalho, sem isso pra mim é como nadar no escuro, visto os inúmeros casos de insucessos nesta cirurgia.
Um grande abraço.

Luciana Leal disse...

Rafael L:
Você está certo. O resultado de uma rinoplastia depende muito da anatomia do nariz antes da cirurgia. Narizes caucasianos (pele fina, e ossos muito marcados) normalmente tem resultados melhores, ao passo que narizes com pele mais grossa, base narinária larga e dorso muito baixo são mais difíceis.
Claro que na consulta o cirurgião deve explicar as limitações da cirurgia e fazer o paciente entender o que é possível fazer.
Isso é um capítulo à parte e um tópico sobre nariz já está no forno.
Em relação às fotos, você deve entender que trata-se de um exame de imagem como se fosse um eletrocardiograma ou um raio x.
Quando você vai a um cardiologista você pede para ver eletros de pacientes antes e depois do tratamento? Acho que não.
E outra coisa, quem mostra fotos de pré e pós só vai mostrar as boas, concorda? Ou você acha que quem mostra não tem maus resultados?
Eu costumo mostrar fotos de livro, assim o paciente tem uma idéia do que se pode conseguir sem ser tendencioso ou ferir o principio do sigilo médico, afinal um livro é de domínio público.
Abraços

Nella disse...

Nunca comentei aqui, mas sempre tive uma admiração muito grande pela Luciana, e agora pelo Luiz, ambos queridíssimos e médicos de corpo e alma. É notório o amor que vocês tem pela profissão que escolheram e sinto-me lisonjeada, assim como os demais leitores, em conhecer um blog assim. Sucesso e felicidade aos dois.

Ana Beh disse...

Dr. Luiz Felipe, adorei!

Tenho 38 anos e agora após amamentar meus 2 filhos por quase 2 anos cada um acho que precisarei de fazer a cirurgia de mama, pois diminuiram e estão flácidas.

A amamentação, infelizmente, tem um potencial transformador das mamas.

A cirurgia para "levantar" é tipo esta que falou? Mescla retirar parte da pele com silicone? Tenho uma prima que fez com ótimos resultados.

abraços!

Luciana Leal disse...

Ana Beth:
Pode ser que você seja uma ótima candidata a uma mastopexia substitutiva. Pacientes jovens com mamas flácidas se beneficiam muito com esta técnica.
Abraços

Nath Ramps disse...

Luciana e Felipe:
Queria agradecer a toda a atenção que vocês tem dispensado aos leitores e principalmente dar os parabéns para os pais de vocês. Quanta educação!
A Luciana já conhecia pelo blog há um tempo e até já falei por e-mail em dias de super estresse na residencia e foi de uma atenção ímpar. Agora chega você, cirugião _definitivamente não são conhecidos por serem os mais simpaticos no hospital_ e nos brinda com tanta atenção e carinho também.
Muito obrigada e parabéns

Anônimo disse...

Bem, ao contrario da maioria das mulheres, penso em retirar o silicone. Coloquei próteses de 235ml aos 27 anos pq sempre tive os seios bem pequenos. O resultado ficou ótimo, mas hoje, 5 anos depois, minha cabeça mudou e fico um pouco incomodada com um corpo estranho no meu corpo. Bem, minha dúvida é: como houve expansão da pele, eu teria que fazer um ajuste com aquela cicatriz em T? Luciana

Unknown disse...

Fiz rwedução nas mamas ha oito anos e nao reduzi tudo o que o medico sugeriu, pois sou uma pessoa que nao valoriza os anos de estudos dos medicos e crio minhas proprias teorias baseadas em nada... Enfim, como fui avisada pelo medico, que meus peitos iriam cair novamente ecrescer... como assim? Nao entendi muito bem o que ele quis dizer com isso na epoca mas hj sei realmente o significado disso tudo, pois estou praticamente usando o mesmo numero de sutia de antes da operação. Queria fazer a cirurgia novamente, com o mesmo medico (Dr. Orlando Cesar) de Niteroi no Rio, mas tenho medo da bronca que levarei... Vc como medico, me castigaria na volta ao consultorio?
Adorei a ideia de termos um cirurgiao por aki!

Malu Trivellato disse...

Lu, seu blog já era maravilhoso com o seu irmão conseguiu ficar melhor ainda!! Beijos, sucesso!!

Iza Vieira disse...

Que legal esse post. Minha mãe sonha em fazer redução desde adolescente. Passou a vida adiando. Agora que ela já passou dos 50 eu estou dando um empurrãozinho. Estamos nos informando e procurando um bom cirurgião em Salvador. Vocês podem indicar algum? De qualquer maneira, vou mandar esse post para ela.

Iza Vieira disse...

Que legal esse post. Minha mãe sonha em fazer redução desde adolescente. Passou a vida adiando. Agora que ela já passou dos 50 eu estou dando um empurrãozinho. Estamos nos informando e procurando um bom cirurgião em Salvador. Vocês podem indicar algum? De qualquer maneira, vou mandar esse post para ela.

FABIANA disse...

DR. LUCIANA SIGO SEU BLOG A TEMPOS E ADORO E O MAIS IMPORTANTE É A CONFIANÇA QUE O SEU BLOG TRANSMITE... MUITO BOA A PARTICIPAÇAO DO SEU IRMAO AQUI, ESTOU ANSIOSA PELO POST SOBRE LIPO.
GOSTARIA Q ME DESSE UMA DICA DE DEPILAÇAO A LASER Q POSSO FAZER NO ROSTO... JA FIZ LIGHT SHEER E SOPRANO NAS PERNAS E VALEU A PENA MAS SÃO MUITO DOLORIDAS, AÍ ME FALARAM DA ALEXANDRITE Q DÓI MENOS... SERÁ VERDADE??? OBRIGADA BJO

Anônimo disse...

Luiz Felipe e Luciana, estou adorando os posts sobre cirurgia plástica! Luciana está de parabéns pela iniciativa e Luiz Felipe pelo delicioso jeito de escrever. Beijos pra vocês

Luciana Leal disse...

Anônimo:
Se houver flacidez de pele, sim.
Agora, é fato que sua mama vai ficar "vazia". Não aconselho retirar o implante se ele não estiver com problemas...

Luciana Leal disse...

Juliana Azevedo:
Eu conheço o Dr.Orlando. Nós fizemos a mesma escola de cirurgia plástica (com o prof.Ronaldo Pontes) e operamos no mesmo hospital. E por isso posso te dizer: O Orlando jamais seria capaz de brigar com você, pois trata-se de uma das pessoas mais doces que já conheci.
Agora, um "eu te disse" pode rolar...
Abraços e não deixe de procurá-lo.

Anônimo disse...

puxa legal..fala sobre abdominoplastia.....to muito interessada...e as vezes tenho medo da cicatriz ficar pior que a atual barriga feia..abs e sucesso

Deisy T. disse...

Luiz Felipe, estou adorando os posts sobre cirurgia plástica. Tenho vontade de fazer mamoplastia de aumento, mas tenho receio de que a submissão a esse tipo de cirurgia antes da amamentação não traria um resultado tão satisfatório quanto fazer o procedimento cirúrgico após a maternidade. Meu raciocínio está correto? O resultado fica melhor antes ou depois de ter filhos? Abraços

Luciana Leal disse...

Deisy
Se a cirurgia for de inclusão de implante, sem mexer em pele, não tem problema algum. Agora, se vc tiver flacidez e for preciso além do implante mexer na pele, aí é preferível esperar a amamentação.
Abraços

Débora disse...

Parabéns pelo post!

Uma dúvida que eu tenho é sobre os mamilos.

Eles precisam ser retirados durante a cirurgia? Há alguma alteração neles ou é possível mantê-los como eram antes da cirurgia?

Coisas da Carlinha disse...

Dr. Luiz Felipe,

Obrigada pela explicação sobre a cirurgia de redução de mama. Fiz esse procedimento há aproximadamente 8 anos e na época meus seios ficaram menores, mas como o passar do tempo, elas estão praticamente com mesmo tamanho de antes. Tenho um filho e quero ter mais um. Gostaria de saber se é possível fazer a mesma cirurgia, se sim, como fica a cicatriz? E quanto tempo depois da gravidez posso fazer?
Obrigada!
Carla

Anônimo disse...

ConSenso

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minhapele@ig.com.br, Rio de Janeiro, Brazil
Uma médica que ama dermatologia, medicina estética, e principalmente, ADORA o que faz. Um cirurgião plástico apaixonado pela profissão.

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