Depois que Gabriel entrou no quadro de suspeita do autismo, fui alertada por todos os nossos médicos e terapeutas, que a educação bilíngue poderia atrapalhar o desenvolvimento da fala do meu filho. Como era um sonho antigo meu, essa informação me deixou sem chão.
Chorei durante semanas, fiquei insegura em relação ao nosso futuro e com medo a respeito de quais outras coisas o autismo iria nos "roubar". Confesso, envergonhada, que durante um tempo, eu cheguei a desistir desse sonho. Entrei na terapia disposta a me curar dessa desilusão. A terapia durou não mais do que um mês, e de fato, me ajudou bastante.
Me ajudou a investigar lá nas profundezas do meu ser porque isso era tão importante para mim (não vou cansar vocês com esse assunto), me ajudou a reavaliar minha vida, e até mesmo a resgatar essa vontade. Até porque, ela nunca desapareceu, só foi varrida para debaixo do tapete.
Comecei a procurar na internet informações sobre bilinguismo e autismo, e para a minha surpresa, pouco se fala ou escreve sobre esse assunto. Comecei a refletir, até porque jamais tomaria uma decisão que pudesse atrapalhar a vida do Gabriel, e perguntei para a sua neurologista, se existiam trabalhos científicos publicados, que recomendassem não ensinar dois idiomas para uma criança autista.
Ela disse que desconhecia tais publicações.
Resolvi então olhar para o meu filho, com olhos críticos (tarefa hercúlea para uma mãe), e procurei avaliar como foi o desenvolvimento dele durante esses três primeiros meses de escola bilíngue, quando ele ainda não havia sido diagnosticado.
Bem, ele teve realmente poucos "ganhos" verbais, mas também não teve "perdas". Era feliz na escola. Ele tinha 1 ano e 9 meses, caramba. Quantas são as crianças que falam como um papagaio nessa idade? Resolvi não tira-lo da escola, e observar seu desenvolvimento. Se ele regredisse, sinalizasse de alguma forma que estava infeliz, ou não evoluísse no seu desenvolvimento, eu o tiraria da escola no fim do ano.
Além disso, investimos pesado na fono e nas psicologas (assim mesmo, no plural). Esse primeiro ano escolar foi tenso, pra dizer o mínimo. Todos estavam contra mim, até o meu marido estava inseguro, com medo de estarmos prejudicando a criança.
Ocorre que ele se desenvolveu. Ainda havia atraso em seu desenvolvimento, mas definitivamente, houve uma evolução. no segundo ano em que estudou nessa escola, ele desabrochou. Com a melhora da fala, a interação com os amigos mudou significativamente. Hoje o Gabriel é outra criança, com o bônus de "falar" fluentemente duas línguas. Ouso dizer que ele entende e se comunica melhor em inglês do que em português (minha explicação leiga para isso é a seguinte, inglês é uma língua mais óbvia e racional que o português, ou seja, ideal para crianças autistas).
Hoje, suas terapeutas e médicos já aceitam melhor que o bilinguismo pode ser sim, uma opção para algumas crianças autistas. Claro que não é a melhor opção para todas as crianças, mas elas devem sim, serem avaliadas individualmente, e nesse processo podem surpreender a todos.
Só de não ter essa porta fechada na cara, assim que se recebe o diagnóstico, já é um baita ganho. Não aceite um "NÃO" assim, logo de cara, sem dar uma chance para o seu filho.
E não tenha receio de recuar, se essa não for a melhor escolha para o seu filho. Nós não temos todas as respostas, não acertamos sempre. O que é bom para o meu filho, não necessariamente pode ser o ideal para o seu. Mas não se culpe por ter tentado. A vida é uma roleta russa, só podemos confiar em nossos instintos.
E dessa vez, meu instinto estava certo.
19 comentários:
Lu,
Dê uma olhada no lindo blog da Andréa (http://lagartavirapupa.com.br/).
O filho dela é autista e eles já moraram em Londres e agora em Estocolmo. Ele tb está tendo uma educação bilíngue.
Beijos
Lu,
Dê uma olhada no lindo blog da Andréa (http://lagartavirapupa.com.br/).
O filho dela é autista e eles já moraram em Londres e agora em Estocolmo. Ele tb está tendo uma educação bilíngue.
Beijos
Vc está certíssima! Aceitar tudo assim, sem questionar, não leva a lugar nenhum! Depois que fui mãe, tbm passei a querer saber tudo, origem da teoria, Pq tem que ser desse jeito... Voilà! Meu filho vai estudar na escola francesa, eu falo português em casa... Estou só esperando pra ver como será! Quero muito vê-lo assim, como o seu Gabriel! Mandando ver! Hahaha Beijos!!!
Lu adoro seu perfil, o Gabriel élindo, nao comentava antes mas vou começar, parabéns pela iniciativa! O Gabriel e vc Merece, porque realmente, português é mais difícil, certas coisas eu entendo melhor em inglês bjs tudo de bom pra vcs!
Lú,
Lú,
Muito interessante esse seu post... Vivi também alguns dilemas quando descobri uma surdez de grau severo, em meu filho caçula, quando ele tinha 1 ano e 8 meses. O teste da orelhinha feito na maternidade havia sido normal. Por isso, a notícia veio como uma avalanche em cima de nós. Ainda fragilizados pela tristeza da notícia, tínhamos que decidir naquele momento, caminhos importantes p/ sua educação e futuro, como por ex., se ele aprenderia língua de sinais ou só o português, se estudaria em escolas especiais p/ surdos ou em colégios regulares, etc. Parece uma bobagem, mas uma das coisas que me deixou mais triste, quando soube de sua deficiência, foi pensar que ele não poderia estudar no mesmo colégio do irmão mais velho. Imaginar que ele nao teria as mesmas oportunidades do irmao, rasgava meu peito de angústia. Depois de ouvir muitas opiniões e também criticas, optamos somente pela oralização em português, pela escola regular e posteriormente, pelo inglês.
Felizmente, depois de muito esforço, dedicação e carinho, meu filho está hoje com 11 anos e está muito bem. É sociável, independente ( esse era nosso maior objetivo), estuda no mesmo colégio do irmão 😊, fala perfeitamente o português ( embora tenha formado frases completas somente aos 5 anos, após muita fonoterapia e musicoterapia) e desenvolve-se a cada dia no inglês.
Na verdade, só o tempo nos diz se fizemos as escolhas certas. Mas, acredito muito na intuição materna e acima de tudo, no efeito dos sonhos e das apostas dos pais sobre as crianças especiais. Digo isso, pois infelizmente, ao longo do tempo, conheci país que ao receberem a notícia de uma deficiência ou distúrbio do filho, pararam de ter sonhos e projetos para ele. E isso, muitas vezes, é mais danoso que o próprio problema ou dificuldade que a criança possui.
Desejo muitos sonhos e projetos para o Gabriel !!!
Beijos
Leida
mas voce pensa em ir morar fora mesmo ou apenas quer que ele seja bilingue desde cedo?
Em relação a morar no exterior, no momento, seria impossível para mim, mas eu e meu marido já ficamos vários meses fazendo cursos em universidades americanas, e se pintar algum mais longo, não gostaríamos de perder a oportunidade
Luciana, moro na Argentina, falo Português com ele e vai a um colégio esp/inglês, meu filho tem TEA leve segundo o neuro, todos me disseram q não ajuda esse bilinguismo, mas nenhum desses profissionais têm experiência, experiência mesmo nesse assunto, exceto uma pediatra, especialista em neurodesenvolvimento, especializada no Canada(quer lugar mais bilíngue?) q me disse q demora mais, um pouco mais, mas q tudo se ajeita. Vejo nele um interesse maior pelo Português e o Inglês. Seja o q Deus quiser. Sorte e paciência para nós!!!
Ola Luciana,
Vc levantou uma ótima questão!
meu filho tambem tem um alerta de TEA desde os 3 anos.
Somente agora, prestes a completar 4 anos, com muita fono e musicoterapia está começando a conversar. Mas ainda tem muito pouco interesse social, por conta disso, iniciaremos a terapia com a psicologa.
Estava no mesmo dilema. Ele estava numa bilingue desde 1a6m e gostava muito! Tinha um excente vocabulário em inglês, o que também contribuiu para atrasar o diagnóstico.
Somente aos 3 anos, percebemos, o atraso na linguagem. (Ele falava palavras soltas, mas não conseguia conversar ou responder a perguntas simples). Fiquei com medo do bilinguismo atrasar ainda mais a fala e atrapalhar na interação com os coleguinhas (já q todas as crianças conversam aos 3 anos). Troquei por uma regular, mais construtivista.
logo depois veio o alerta de Tea.
Os profissionais me aconselharam a fazer essa mudança e apenas conversar em português, mas fico na dúvida se de fato a escola bilingue atrapalha...
ser mãe é ter que tomar decisões dificeis...
super bjo
Muito legal seu comentário como Mãe! Sou professora em uma escola bilingue e já tive muitos alunos autistas! Alguns realmente se adaptaram e se desenvolveram de forma brilhante! Para outros não funcionou! Mas acredito que isso acontece com todas as crianças, talvez não de forma tão evidente assim, mas não é uma situação somente para as crianças autistas! Parabéns pelo blog!!!
Ainda bem que não estamos sozinhas! Logo no início do processo, eu não sabia que existiam outros pais na mesma situação.
Adorei os comentários e achei super pertinente o que uma professora comentou aqui no blog, que o bilinguismo funciona para uns e para outros não, exatamente como acontece com as crianças neurotípicas.
Lu, sou médica tb é meu bebe está com 19 meses. Estou desconfiada que ele tenha transtorno do espectro autista. Vc pode me indicar algum médico para investigar?? Infelizmente não tenho contato com nenhum neuropediatra/psiquiatra infantil de confiança. Obrigada. Bjs
Parabéns!!
Você seguiu o seu instinto, está totalmente certa! As mães sempre sabem o que é melhor para seus filhos e você ainda tem o bônus de ser médica também, rs! O Gabriel é lindo demais!! Beijinhos, Aliny :-)
Flavia ja conseguiu o médico? De onde vc é?
Olá, sei que esse post é antigo mas pesquisando sobre autismo encontrei seu blog. Meu bebê tb está com essa suspeita :( ele tem 1 ano e 7 meses e não diz nenhuma palavra e tem obsessão por objetos que giram. Seu filho demorou a falar? Se vc tiver algum e mail, queria conversar um pouco se vc puder! Vi q seu filho saiu do aspecto, uma verdadeira bênção! Um beijao
Estou nesse dilema. Obrigada pela post. Realmente quase não ha nada sobre esse assunto em português.
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